segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Bolinhos de Mel de Natal da Vó Glaucia

Desde a lembrança mais remota que tenho da minha infância, está presente todo final de ano, o espírito do Natal sendo implantado em mim no dia em que confeccionávamos os famosos e tradicionais bolinhos de mel da vó Gláucia.

No início do mês de dezembro, a vó já estipulava o dia, e no dia estabelecido, íamos pra lá pra ajudar. Na verdade eram dois dias, o primeiro pra cortar e enfornar e o segundo pra confeitar e decorar (meu dia favorito). Éramos eu, minha irmã, minha mãe e a vó. Só nós quatro, isso era o mais fantástico. Eu tenho duas primas mais velhas que, na minha cabeça, eram muito melhores que eu, por serem mais velhas e mais próximas da tão esperada idade adulta. Mas neste dia, eu era a mais velha, a mais experiente, e isso me deixava muito feliz e entusiasmada, pois toda família comeria os bolinhos, e sabiam que eu tinha ajudado a fazer e decorar cada um deles. Me sentia muito importante!!!!

Nesta época do ano, já estávamos de férias do colégio e já estávamos na praia do Cassino, como fazíamos todos os anos. No início de novembro, nos mudávamos pra casa da praia que fica 18 km do nosso apartamento no centro da cidade de Rio Grande que foi onde nasci e me criei. Confesso que acordar cedo em plenas férias, a princípio, não me agradava muito. Resmungava, mas quando me dava conta de que era por uma ótima causa, ficava feliz, e logo logo, o sono e a preguiça iam embora.

Chegando na casa da vó Gláucia, já se sentia o cheirinho delicioso, pois a danada nunca esperava a gente chegar pra começar. A massa ela fazia de véspera e quando chegávamos, já estava cortando e enfornando as primeiras delícias. A maioria tinha formato de coração, e uma pequena parte da massa a gente fazia nos mais variados formatos. Papai Noel, árvore de natal, bonequinho de neve... era bolinho que não acabava mais. Sujas de farinha, com dor na mão por causa do rolo de espalhar a massa, cansadas, ajudávamos pra valer. Loucas pra que terminasse a parte de assar e passar pra parte de confeitar. No dia de confeitar, a vó fazia merengada de todas as cores possíveis e imagináveis e comprava confeitos de todos os tipos e cores. Todo aquele , material a nossa disposição pra trabalhar. A gente comia mais do que trabalhava e nunca brigaram conosco por isso, minha mãe e minha vó sabiam que degustar fazia parte daquele momento e permitiam, pois sabiam o valor que isso teria na nossa memória, como realmente tem, sábias não é??? Colocávamos o merengue em seringas de metal pra fazer as linhas mais delicadas. Derrepente a vó vinha com a seringa e dizia pra gente abrir a boca e lá ela injetava um delicioso e colorido jato de merengue. Era sensacional!!!!! Assim passávamos o dia, até ficarmos enjoadas de tanto doce. Uma certa hora, mais pro final do dia, a gente não agüentava nem mais sentir o cheiro dos tais bolinhos de mel ou do merengue. Só comíamos os bolinhos no dia de fazer novamente no ano seguinte, de tanto que comíamos. Por Deus!!!! Como ficávamos enjoadas!!!!!! E ainda assim, era feito em tanta quantidade que o que a gente comia, não fazia a menor diferença. Pra ter uma idéia, se começava a comer bolinhos de mel no início de dezembro e se comia até o final do próximo ano, sendo que além de ficarem disponíveis na casa da vó, eram distribuídos para todas as casas da família. Ficavam disponíveis em todos os lares da minha família por parte de mãe. E isso era o melhor!! Todos contemplavam e se deliciavam, com bolinhos de mel, que eu ajudei a fazer. Isso fazia eu me sentir especial e útil, mesmo sendo criança, minha ajuda era fundamental e minha vó sempre fazia questão de deixar isto claro pra todos. Que eu e minha irmã que tínhamos ajudado a fazer, que sem a nossa ajuda isso não seria possível. Isso era mágico!!!!!! Aliás, minha vó tinha esta capacidade. Ela sempre fazia o elogio certo, a crítica da maneira correta, a palavra certa no momento exato!!!! Eu sinto muita falta dela e principalmente daquele ombro gostoso, que me foi crucial durante o período que tive o privilégio de conviver com ela. Ela faleceu em 1998 e eu já tinha 24 anos, aproveitei bastante, mas ainda sinto falta daquele ombro mágico, que tanto me consolava nos momentos mais difíceis da vida. Hoje sou uma pessoa feliz e devo grande parte disso à minha vó Gláucia, que com sua sabedoria me fez uma pessoa melhor. Depois que a vó nos deixou, a Tita, casada com meu tio, fazia pra distribuir pra cada família, claro que em menor quantidade, mas para manter a tradição. A tia Regina, casada com outro tio e a Gabriela (uma das minhas primas grandes) também faziam. A Tita também faleceu e deixou um imenso vazio, mas os bolinhos, a Maitê (filha da Tita e minha outra prima grande)continua fazendo para perpetuar aquele gostinho que ainda hoje me prepara pro Natal. Minha madrinha que mora no Paraná também faz todos os anos. Sem a vó, a galera teve que se virar, o que provou que todos se sentem como eu em relação a isto. Nem sei o que seria do Natal se não tivesse bolinhos de mel!!!! Não sei como seria viver sem todas essas lembranças que só o cheiro da massa de mel me traz. Aproveitei a oportunidade de estar escrevendo sobre isto, pra pegar a receita, pois o dia que ninguém fizer mais bolinhos, vou eu começar a fazer, pois sem eles eu não passo o Natal. . O fato de todos começarem a fazer nas suas casas, prova que toda família tem sentimentos semelhantes aos meus. Os bolinhos de mel trazem um pouquinho da vó Gláucia de volta, isso nos traz de uma forma suave e gentil, a sua sábia e prazerosa presença pra perto de nós. (Setembro 2010)
Escrevi isto no dia 20 de setembro de 2010 para uma amiga terapeuta de familia que queria historias que comprovassem a importancia da comida na familia pra um livro que ja até publicou. Em dezembro do mesmo ano, eu a mãe e o pai decidimos começar a fazer os bolinhos lá em casa e 2011 ja foi o segundo ano! Delícia de momento!!!!!!!!
A vó deixou a receita datilografada para todos, corrijo apenas alguns detalhes esquecidos sem querer por ela. Falta uma colher de sopa de manteiga na listados ingredientes. E no modo de fazer, falta dizer que os ovos são colocados logo após o mel.

2 comentários:

Ateliê da Miriam disse...

Letícia me emocionei lendo tuas recordações....tb tenho grandes recordações da tua família,afinal minha mãe era muito amiga da tua vó e da tua mãe.guando tua mãe morava no lar gaúcho,eu vivia na cola dela kkkkk,tem ate uma historia do leite condensado ,já deves ter ouvido kkkk,te vi nascer....tenho um carinho imenso pela tua família,e foi com lagrimas nos olhos que li tuas recordações...pois adorava tua vó e teu vô...amei teu blog,vou estar sempre por aqui,tais lindaaa como sempre fostes bjão em todos da tua família
miriam(filha da marigilda)

Letícia Villwock disse...

Emocionada fiquei eu!!!! guria, quando me adicionaste no facebook, nao me dei conta de quem eras tu, MINHA PRIMEIRA AMIGA!!!!!!!! Que legal!!!!!! Por isso eu amo a internet!!!!!!!! Beijos querida!!!!! Vamos nos encontrar!!!!!!!!